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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Desvende-me



           Tirei as vendas, abri os olhos e sol batia no meu rosto. Fui invadida pelo pensamento de que acordei para cultivar bons hábitos, tomar aquele cafezinho com a família, brincar com o bichinho de estimação... Ou seja, dar atenção a esses pequenos deleites que nos fazem explodir de alegria e paz interior.
Entendi que nossa complexidade humana ainda ofusca essa simplicidade e nos faz perdidos em labirintos sombrios. Logo naquele instante que você poderia contemplar momentos sutis e encantadores... Desfrutar e valorizar todos eles. Logo quando não existe nenhuma preocupação com P maiúsculo. Mas antes que você caia na real, já surgiram novas preocupações que te apunhalam do momento que acorda até a hora que consegue fechar os olhos. Ai fica fácil constatar que era feliz e não sabia.
Basta! O jeito é ser feliz e saber que está!  Mesmo que aquele amor de conto de fadas ainda não tenha surgido, mesmo que aquela promoção no emprego não tenha despontado, mesmo que aquele reencontro ainda demore alguns ‘X’ no calendário. É bom viver na expectativa. É bom viver só de momentos. É bom esperar por uma pessoa que mude sua vida ao comprar pão. É bom esperar por vizinhos novos e charmosos. É bom esperar a semana se arrastar até o dia daquela viagem. É bom esperar o feriado para poder ficar relax com o namorado. Tudo isso é bom!  Ou seja, ter metas, almejar por algo que faça aquele dia de estudos intermináveis ficar menos chato, algo que faça aquele momento de carimbar e grampear menos mecânico. Algo que faça a quinta-feira ter cara de sexta. Que faça o doce ser sempre chocolate, que faça a leitura ser mais entretida, que faça os pensamentos amenos... Enfim, que faça as vendas serem rasgadas e um novo olhar sobre a vida nascer...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Tempo, tempo mano velho...



“Hoje o tempo voa, amor”. Na verdade a maioria dos dias é assim... E tem horas de monotonia e tédio que ele cursa tão devagar que só conseguimos pensar em quando tiver passado. A ansiedade faz isso: põe freio no tempo fazendo ele se arrastar sem fim. No entanto, se não prestamos atenção e ficamos anestesiados, ele continua passando imperceptível.  Ou seja, o tempo muda de acordo com nossa percepção.  No fim, o tempo é apenas uma ilusão. De forma simples acontece, sem que possamos vê-lo, senti-lo ou percebê-lo.
Ocorre que nosso cérebro, todos os dias processa observações de pessoas, objetos, movimentos, nascer e pôr do sol, verificando todas as novidades e incentivando que hábitos e conceitos sejam criados ou mantidos.
A primeira vez de qualquer experiência é intensa e requer a dedicação de muitos recursos para compreender o que está acontecendo. Mas a cada vez que ocorrer uma repetição dessa experiência, o nosso cérebro deixará de processar conscientemente essa repetição, automatizando pensamentos, deletando experiências duplicadas que no final deixam de contar no saldo do dia. Por isso, no decorrer dos anos o tempo parece passar mais rápido devido essa repetição de experiências, e quanto mais idade, mais o processo é acentuado. Com a idade é normal que tudo se repita. Você conhece as mesmas pessoas, depara com os mesmos problemas e as experiências de verdade vão diminuindo, daí a sensação de que você faz aniversário cada vez mais rápido.
 Em crianças tudo é novidade e faz a mente parar para pensar e processar a informação, o que faz que o dia pareça ter sido longo. Dias longos e  cheios de novidades e anos que duram eternidades fazem parte da realidade temporal de uma criança.
Outra coisa interessante é que nos momentos em que não estamos em guerra com nossas percepções sobre o tempo, ficamos elegendo nossas melhores memórias. Estima-se que mais da metade das conversas tenham referências a eventos passados. E quando não estamos voltando ao passando, ficamos projetando o futuro, ou seja, viajando mesmo no tempo, nas memórias cristalizadas e nos projetos com mil potencialidades.
O que dá pra concluir é que enquanto ele passa “vamos viver tudo que dá pra viver, vamos nos permitir”.

"Por mais que o tempo possa parecer a passagem das horas, vão parecer curtos se pensar que nunca mais há de vê-los passar."
( Aldous Huxley )

domingo, 14 de agosto de 2011

Vertical, cinza e impessoal




Vertical.
Cinza.
Impessoal.
Essa é a visão que tenho de um domingo de garoa, solitário e sem distrações. Milhas e milhas distante de um aconchegante e caloroso lar. E tudo que  parece importar nesse momento é que todo mundo é uma ilha, como já dizia Humberto Gessinger.
Ilhas verticais, cinzas e impessoais.
Não há troca, não há diálogos, não há calor humano. Tudo o que me resta são inúmeros prédios, um céu nublado e vizinhos que ainda não conheço (e talvez nunca conheça mesmo).
Ou coloro esses rascunhos ou me entrego ao vertical, cinza e impessoal. Enquanto isso, olhar a chuva me basta...



terça-feira, 2 de agosto de 2011

Dance...

Ai, esse nosso apego a tudo que ficou para trás é intrigante. Quando uma relação termina temos que aprender a lidar com a coreografia das ausências e, ao mesmo tempo, com a falta de perspectiva para novas apresentações.  Pior quando a vida nos coloca na ponta dos pés e nos cobra um desprendimento do que ficou. Ai tudo fica tenso e todos aqueles movimentos deslizantes desaparecem, visto que nosso apego era forte com as vibrações  que aquela  pessoa nos trazia e mais ainda com o espetáculo de vida que tínhamos. Por mais que queiramos nos desprender é mais fácil o contrário. Isso porque bate um desânimo em enfrentar uma nova fase de solidão nos ensaios  e começar outra vez todo aquele alongamento. De certa forma é  tão mais fácil continuar o que tínhamos, continuar os passos hipnotizantes e fascinantes que sabíamos.
Simples. Queríamos apenas nos encolher e guardar a lembrancinha da época boa que vivemos, guardar aquela sensação, aquela melodia. Queríamos de volta o que tínhamos, a alegria que esbanjávamos, a energia que nos impulsionava, o ritmo que nos eletrizava. Mesmo assim sabemos que é preciso nos livrar da confusão que os rodopios da dor nos causaram, lembrar que aquele par (aquele mesmo) não é mais envolvente. Lembrar que o mundo continuou seu ciclo, seus ensaios e shows. As pessoas continuaram suas rotinas, o sol não se apagou, as flores desabrocharam, as crianças seguiram para o circo... O mundo não parou seu compasso para fazer nosso cenário de dor e nem nossa trilha melancólica. E no fim, só dói quando desejamos nos inclinar, ou seja quando pensamos, quando ficamos lembrando e remoendo.Só dói quando cutucamos nossos calos . Então decidimos não mexer e seguir a dança, sem nos apegar demais ao par e ao baile de ontem. Afinal, todo dia tem uma dança nova. E  quer saber, ultimamente andamos mais para balada onde se dança só!